Por Rodrigo Galego
Trabalho como técnico já há 15 anos aqui no DF. Mesmo assim, muitas das lembranças que tive como praticante ainda garoto, no Clube Vizinhança, habitam a minha memória. Certamente, devo muito do que escolhi pra minha vida, do que tenho de relações com as pessoas, ao que vivi como praticante desta modalidade pela qual sou completamente apaixonado. E recentemente dois acontecimentos vieram me ajudar a pensar um pouco mais sobre isso. E é exatamente estas histórias que venho aqui dividir com vocês.
Estou participando da Braba, Liga de Basquete Adulto Masculino, que está em sua segunda edição. Nos diversos confrontos que tive até agora, encontrei muitos colegas com os quais compartilhei horas de treino quando mais jovem. Em um desses encontros, em específico, um grande amigo me relatou a importância que o basquete teve na sua vida e como era bom estar de volta às quadras jogando o campeonato adulto e podendo desfrutar um pouco de algo que ele considera importante. Nessa conversa, começamos a falar de nossos colegas, saber quem mora onde, se casou e etc. E ele, empolgado com toda essa sensação, resolveu mandar mensagem para uns cinco colegas no facebook pensando em marcar um encontro para nos reunirmos e nos vermos. Em dois dias, mais de 40 pessoas estavam adicionadas em um grupo na mesma rede social e todos trocando fotos, histórias marcantes, relembrando risadas que deram juntos e apertos que dividiram naquela época. Em breve, faremos nosso encontro. Estamos apenas conciliando datas e horários, pois nem todos ainda moram aqui em Brasília.
De forma bem parecida, mas por um motivo que não gostaríamos de ter para nos encontrarmos, recentemente descobri que um grande colega da época que eu jogava na antiga categoria mini, hoje mais conhecida como Sub-12 (já faz um bom tempo isso), está muito doente, passando por um momento difícil de sua vida e que amigos e familiares se encontravam próximos para o ajudarem e a orarem por ele. Não custou muito e em uma breve pesquisa em meus contatos, consegui encontrar boa parte do nosso time que jogava junto há mais de vinte anos atrás. Relatei o que acontecia com nosso amigo e todos, de imediato, se colocaram à disposição para ajudar e estarem próximos como puderem. Nem todos moram em Brasília, nem todos moram no Brasil, mas todos mostraram ali que ainda tinham a mesma sensação de pertencimento de equipe de mais de vinte anos atrás. O resultado disso é que estamos nos organizando para visitar nosso colega que precisa de cuidados e planejando fazer vídeos de incentivo e apoio daqueles que pela distância estão impossibilitados de estarem presentes fisicamente.
O que quero trazer a vocês com estas duas histórias? Quero mostrar a vocês como o esporte é um fenômeno social absurdamente impactante e como podemos usufruir deste fenômeno para formar não apenas atletas, mas pessoas com histórias de vida repletas de aprendizados. Como disse antes, devo muito do que tenho de valores na minha vida para o que aprendi com o basquete. Por vezes, aprendi muito mais dentro de quadra do que dentro de sala de aula. Os aprendizados que tive foram para muito além das quadras. E quando vivi estas duas histórias de reencontros, recentemente, percebi que minha primeira coluna aqui no site da FBDF estava pronta. Pois estamos exatamente numa época marcante desta nova gestão da FBDF. Época em que os campeonatos finalmente voltam à ativa, depois de praticamente três anos sem atividades oficiais pela Federação da cidade. É muito bom poder ver meus atletas se desafiando a colocar em prática tudo o que treinam e firmando laços de amizades cada vez mais fortes com sua equipe e companheiros. É muito bom vê-los aprendendo com o jogo, com os árbitros, aprendendo a lidar com a torcida, com a expectativa dos pais, com a própria expectativa e principalmente aprendendo com os adversários. Adversários estes que na minha opinião são a maior fonte de aprendizado de jogo para eles. São os adversários que os levam a ter de jogar além dos próprios limites. São os adversários que os testam, são eles que lhes impõem derrotas e que são batidos em vitórias, mas que nunca desistem de os vencerem. E é nessa relação que amizades se firmam. Hoje tenho o prazer de encontrar com diversos amigos que fiz jogando junto ou jogando contra aqui no DF. Alguns ainda trabalham com basquete, como eu, outros apenas fazem do basquete seu hobby, sua diversão, seu “momento de paz” e lembram que lá atrás viveram uma época cheia de aprendizados, cheia de lembranças boas que foram e são parte até hoje do que são agora. Por isso, venho aqui comemorar a importância de voltarmos a estar juntos nos jogos com os campeonatos sendo realizados. É a chance de fazer o basquete de cada um evoluir e por conseqüência o basquete do DF crescer. Sinceramente, acredito nisso e mergulho com o maior prazer nesse desafio de ver as novas gerações de praticantes de basquete do DF crescerem com a melhor formação possível. Isso é uma responsabilidade de todos nós: professores, árbitros, dirigentes, familiares e todos os espectadores. Precisamos saber ofertar esse tipo de competição para nossos atletas e a tornar este um espaço seguro para a prática, para terem coragem de se arriscar e não apenas reproduzir um ambiente de vitórias e derrotas.
O jogo, a competição, ensina muito mais do que o ditado “que vença o melhor”. Estamos falando de um momento que marca a vida desses jovens, como pude relatar o quanto me marcou e marcou os meus antigos amigos.
A estes amigos que acabei reencontrando e voltando a manter contato recentemente nas duas histórias que contei, obrigado pela amizade, pelo suor compartilhado nos treinos e pelos ensinamentos… sempre.
E em especial ao colega Ronaldo Isoni, que fez parte de uma das épocas mais fantásticas da minha vida, dedico esta coluna e afirmo que minhas orações estão voltadas a você, Ronaldo. Que possa se recuperar logo pra voltarmos a jogar um basquete juntos de nosso time mini, pois estamos todos te esperando com a ilustre presença do nosso querido professor Macedo, pra lembrarmos que o que se viveu lá atrás fica pra sempre.
Até a próxima. Abraço a todos!