Mais focada na música, apresentamos a segunda parte de nossa entrevista com o Gustavo Bertoni, vocalista da banda Scalene e ex-atleta de basquete da Seleção do DF. Leia a primeira parte aqui.
O hip-hop é bastante associado ao basquete. Você gosta de algum artista desse estilo musical?
Escutava muito hip-hop quando jogava, mas hoje em dia escuto bem pouco. Eu me lembro que escutava bastante artistas internacionais, gostava do 50 Cent, do Chamillionaire. Mas, atualmente, acho que o Emicida está um nível acima de todos os outros rappers brasileiros. Eu o encontrei no aeroporto, voltando de algum show, dei o CD da Scalene e depois ele falou que ouviu e gostou. Ainda quero fazer uma parceria com o Emicida, eu gosto do trabalho dele.
Você já compôs alguma música sobre essa sua transição do basquete para a música?
Não. O basquete me influenciou, no sentido de ir atrás dos meus sonhos. A gente fala isso muitas vezes nas músicas, como “não ouse negar o sonhador”, de Sonhador II. Era meu sonho, realmente, jogar e viver de basquete, por isso eu engolia a bola. E agora encaro a banda do mesmo jeito, eu vivo a música vinte e quatro horas por dia. Então, com certeza, levei os meus valores do basquete para a música, mas não cheguei a escrever nada falando sobre isso, porque acho que seria nostálgico demais… toda vez que eu tocasse, essa música ia me levar para aquele lugar que talvez não fosse muito saudável.
A Scalene começou informalmente e sem grandes pretensões. Como foi e quando vocês perceberam que a banda tinha virado uma coisa séria?
Acho que foi muito natural, não foi depois de um certo acontecimento, foi aos poucos. Nós nos envolvemos cada vez mais, investimos mais tempo, mais energia, mais dinheiro e então já estávamos bem comprometidos com a banda e tivemos um feedback legal de muita gente elogiando o som. Isso acontece até hoje. Às vezes, eu acordo e estou com um sentimento de responsabilidade com a banda e com os nossos fãs muito maior do que no dia anterior. Tem dia que quero ser um moleque normal e tem dia que quero encarnar o artista e correr atrás do sonho, então isso muda de um dia para o outro e vai se tornando realidade. Eu diria que hoje já não é mais um sonho, porque a gente já rodou o Brasil, faz show pra caramba, trabalha com isso. Acho que esse sonho já virou uma realidade.
Uma parte da verba para produção do primeiro álbum foi arrecadada através de financiamento coletivo. Isso deixou vocês mais inseguros para ousar nas composições e entregar um trabalho que era o esperado pelo público?
Não. O Cromático foi nosso primeiro CD de estúdio completo. Nós tínhamos só um EP antes dele. Foi a primeira vez que a gente realmente se propôs a fazer um trabalho completo e um produto acessível, não necessariamente só comercial, mas acessível. Pelo fato de termos uma vocalista na banda, na época, normalmente a gente ia para um som um pouquinho mais pop, porque a voz dela se encaixava nisso. Tinha essa tendência da vocalista, tinha o fato de ser nosso primeiro trabalho e a gente não queria lançar uma coisa muito doida e chegar a lugar nenhum. Então, no segundo álbum, com muito mais experiência de estúdio, composição, estrada, shows, nós tivemos uma liberdade muito maior para ousar e experimentar várias vertentes do rock.
Do Cromático para o Real/Surreal, o som de vocês amadureceu muito e tomou um rumo mais experimental. A banda pretende seguir a mesma linha do segundo CD, que foi tão bem recebido, ou pretende continuar explorando novas sonoridades?
A gente se encontra num momento em que está se perguntando exatamente isso. Já começamos a compor umas coisas para o CD novo e estamos tentando achar uma direção um pouco mais clara, porque o Real/Surreal teve seu propósito, foi onde a gente experimentou e foi um processo de transição da formação nova. Então, quisemos mostrar tudo o que tínhamos, não só para o público, mas para nós mesmos. E agora, nesse CD, pelo menos eu quero uma direção mais clara, não menos experimentações, mas colocar tudo isso em um núcleo menor, afunilar nossas influências, para ser uma coisa um pouco mais concisa. O fato de conseguir fazer isso vai dizer mais ainda da banda, porque a gente já mostrou que consegue explorar várias vertentes. Será que a gente consegue colocar tudo numa coisa só? Então, querendo ou não, também vai ser experimentar. Quando você fica se limitando e cortando, às vezes você está perdendo um pouco de quem você é. Por isso, nós vamos deixar rolar e quando tivermos pelo menos umas vinte músicas, veremos quais escolher pra fazer uma coisa mais concisa.
Dá para perceber que vocês se preocupam em cuidar da identidade visual da banda (capas dos CD’s, merchandise, vídeos, site e etc). Alguém fica responsável por isso ou todos opinam e colaboram?
Na parte visual todo mundo colabora, todo mundo conversa bem e faz isso junto, mas, geralmente, eu lidero. Se a gente vai fazer a capa de um CD, normalmente sou eu quem escolho o artista ou passo pra ele a ideia da capa, porque estou mais ligado nessa parte. Normalmente, nós contratamos pessoas para fazer, mas as ideias partem bastante da gente, principalmente do merchandise. Nós direcionamos bem, mas o artista coloca a cara, a arte dele e sai o que sai.
A Scalene foi uma das bandas contempladas no projeto da Circula Incubadora. Explique um pouco mais como vai funcionar essa parceria.
O Tomás é nosso empresário. Ele marca todos os shows, organiza tudo e está começando a pesar bastante, porque a demanda está crescendo. Aos poucos, eles vão começar a agenciar os nossos shows e ajudar na assessoria de imprensa. Vamos assinar um contrato com a agência da Circula, que é a Ciranda, do Rio de Janeiro. Eles não vão liderar praticamente nada nosso, mas iremos trabalhar juntos em tudo. Vai ser bem legal, uma parceria bem produtiva. É uma agência nova, então a galera está se organizando, aprendendo, mas o que não falta é boa vontade e caráter neles. Estamos bem motivados para essa nova fase.
Além da Scalene, você compõe músicas solo. As músicas divulgadas do seu projeto solo, até agora, são todas em inglês, enquanto as da banda são em português. Existe a possibilidade de uma troca entre as composições?
A Scalene compor em inglês eu acho bem difícil, a não ser que a gente almeje o mercado internacional, um dia. Por enquanto, a gente não pensa nisso. É mais provável que o meu projeto solo tenha músicas em português do que a Scalene em inglês. Eu planejo deixar bem separado: projeto solo em inglês e banda em português. Acho que não posso nem chamar de projeto solo, porque não lancei nada oficialmente. Inclusive, comecei a trabalhar com o meu produtor no CD. Acho que esse ano a gente grava e no ano que vem o álbum sai. Aí, realmente, vai ser um projeto solo. Por enquanto, são só uns vídeos, umas brincadeiras que eu faço.
Já estamos quase no segundo semestre do ano. O que podemos esperar da Scalene para o resto de 2014?
Bom, vocês podem esperar muitos shows! Estamos marcando várias cidades pro segundo semestre. Talvez um clipe, eu não sei, porque acabamos de lançar o de Amanheceu, mas queremos lançar outro, no segundo semestre, de uma música mais rock, mais pesada, para contrastar.
Deixe um recado para o pessoal do basquete.
Se quiserem conhecer o som da banda, entrem no nosso site. Espero que vocês gostem! Eu não sei se vão achar que tem muito a ver com basquete, mas se para mim tem, pode ter para vocês também. Boa sorte na estrada de vocês, que, no caso, é na quadra. Espero que essas coisas que eu falei sobre garra e disciplina possam servir de inspiração. E não desistam dos seus sonhos! É o clichê que a gente mais fala, mas, com certeza, é muito verdadeiro. Um grande abraço!
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Veja:
– Fotos da entrevista em nossa Galeria.
– Clipe com a música Amanheceu, lançado pela Scalene, em maio, em homenagem às mães:.